Há um ditado popular que diz: falar é fácil; difícil é fazer. Essa dificuldade fica evidente quando proferimos discursos impecáveis, dando palavras de encorajamento a alguém, conselhos de como obter sucesso, superar a dor do amor, mas... quando passamos por situações semelhantes não conseguimos fazer nem a metade daquilo que falamos.
Para os outros o rigor, para nós a misericórdia.
A tendência de falar mais do que fazer, parece bastante comum, sobretudo para quem gosta de passar uma imagem de pessoa bem sucedida, superior, com grande maturidade emocional. Mas essa suposta superioridade se limita a verborragia, pois na prática as convicções não se aplicam.
O ideal seria que ao sugerir ao outro que varra a casa, o mesmo esteja com a sua casa limpa. Mas isso nem sempre acontece.
Muitas vezes, as pessoas defendem enfaticamente valores que não possuem. [Infelizmente, muitos terapêutas fazem isso, principalmente aqueles que passaram a vida na esbórnea, e quando viram que os resultados de suas ações eram desastrosos, resolveram "virar" terapeutas] E nem percebem que não possuem.
Por exemplo, se dizem providos de ética, mesmo falando mal do amigo ausente, fazem alusão a fidelidade mesmo espalhando o segredo alheio, se dizem intolerante ao preconceito ao mesmo tempo que se gabam de tratar de maneira igual o porteiro e o presidente da empresa, discursa sobre o respeito ao próximo querendo levar vantagem na negociação, se dizem praticantes da verdade e pedem ao filho para dizer ao telefone que não está em casa, pregam versículos bíblicos e fazem negócios ilícitos. Falas e fatos completamente destoantes. É como fazer um discurso sobre as maravilhas de não fumar, com um cigarro na boca. [O pior: se confrontadas, pela falta de argumentos, essas pessoas começam a se esquivar com uma ausência absoluta de argumentos consistentes, viajando em ondas de desespero, fazendo de conta que estão no mais absoluto controle]
Mas de onde vem essa mania de discursar aquilo que não se pratica?
Vem da baixa autoestima. Desde criança somos constantemente submetidos a comparações e estimulados à competitividade. São pais que comparam os filhos uns com os outros, as vezes exaltando a inteligência de um, escola que incentiva o primeiro lugar entre os alunos, a família que disputa a autoridade da casa, a comparação com o vizinho bem sucedido. Atitudes que não motivam, ao contrário, frustram, deixando o comparado com a nítida sensação de inferioridade e menos valia. O pior é que às vezes somos induzidos a cobiçar “modelos de sucesso” que nem sabemos se de fato admiramos. São tantos moldes que fica difícil diferenciar o condicionamento da essência.
Mesmo podendo seguir um arbítrio, ainda que pouco livre e romper com os modelos impostos, às vezes é mais fácil sucumbirmos a eles. Quem não consegue chegar lá, finge que chegou. É dessa desonestidade emocional que nasce um paradoxo intrigante: a dupla moral – adultos com vergonha de admitir suas fraquezas, mas sem nenhum pudor de escondê-las atrás de uma mentira.
É a famosa hipocrisia – a arte de discursar aquilo que não se pratica. Uma atitude pusilânime, sobretudo consigo.
Mesmo trazendo para si o maior prejuízo, muitos se apegam a essa farsa, com medo de que, se ficarem sem ela, os outros descobrirão que não há nada ali. Assim, seguem pregando um discurso irreal para esconder a covardia de assumir-se ou reinventar-se.
Nesse caso, a mentira, é tudo aquilo que gostariam que fosse verdade.
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